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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

PADRES CASADOS: OS EXCLUÍDOS DA PRÓPRIA IGREJA

A campanha da Fraternidade de 1995, tratou da questão dos excluídos da sociedade. Nada mais justo. Afinal, vivemos num país marcado pela pobreza e marginalização de grande parte da população. De fato, não podemos e não devemos, em nome da nossa fé em Jesus Cristo, esquecer o nosso compromisso com os mais pobres, gritar contra as injustiças sociais e lutar por um mundo mais fraterno.
A Igreja vive o seu verdadeiro papel, quando se torna a voz dos que não têm voz e denuncia, na função profética, toda ação do homem contra o Reino de Deus, e isto passa, necessariamente, na condenação deste modelo injusto de sociedade. Na maioria das vezes, porém, a Igreja hierárquica - não confundir com Igreja Povo de Deus - esquece esta sua missão profética, e os exemplos não faltam, aqui mesmo na nossa Arquidiocese de Olinda e Recife.
A Campanha da Fraternidade de 1995 foi um bom momento para fazer uma reflexão sobre os excluídos da própria Igreja. E a justiça para ser boa deve começar de casa, como afirma o ditado popular. Não se pode falar em excluídos, sem abordar a questão dos padres casados.
É coisa clara: do ponto de vista teológico, ministério e celibato são duas coisas distintas e sua vinculação, com caráter obrigatório é mera norma eclesiástica. O celibato é um carisma concedido a poucos. O ministério prebiteral é, em princípio, oferecido a todos. No Novo Testamento, não existe nenhum vínculo direto e essencial entre ministério e carisma do celibato. A exigência obrigatória do celibato, é decisão tardia: foi decretada, pela primeira vez, no Concílio de Latrão( 1123). A continência obrigatória, essa já tinha sido imposta aos presbíteros casados em fins do século IV.
Atualmente existem mais de 100 mil padres casados em todo o mundo. No Brasil, quase cinco mil, um terço dos padres da ativa, estão casados, fora do ministério sacerdotal, portanto, excluídos oficialmente das atividades da Igreja. Ao obter a dispensa do Vaticano para casar, o sacerdote fica impedido de exercer todas as funções para as quais foi ordenado, ou seja, não pode celebrar missas, batizados, assistir casamentos etc etc. O mais grave vem com as proibições de exercer, até mesmo, atividades que qualquer pessoa pode fazer, como leitura nas celebrações, distribuição de Eucaristia, ensino de religião etc. Portanto, consideramos que os padres casados são os excluídos da Igreja. Atualmente, existem inúmeras comunidades com falta de pastores impedidas do direito à celebração da Eucaristia. Para o teólogo Schillebeeckx, o direito fundamental da comunidade cristã de dispor de presidentes para a celebração da Eucaristia, de modo algum pode ser bloqueado por uma disposição eclesiástica. Sendo assim, na falta prolongada de um ministro ordenado, poderia hoje, o chefe da comunidade atuar como ministro extraordinário, na celebração da Eucaristia, no entender do próprio Schillebeeckx. O primeiro e fundamental na Igreja, não é o ministério, mas a comunidade. E o sentido e a razão do ministério é ser um serviço na comunidade e para a comunidade.
Ao tratar da questão dos excluídos da sociedade, a Igreja Católica Romana deveria olhar, também, para os excluídos dentro de seu próprio clero. Posso afirmar, com toda certeza, que boa parte dos padres casados, estão dispostos a prestarem qualquer serviço à Igreja e principalmente ao povo de Deus. Uma mera norma eclesiástica, que une celibato ao ministério sacerdotal, não pode continuar existindo acima do direito humano.

Fonte: Associação Rumos - Pe. Félix Filho

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